Biografia – Sociedade Protetora dos Desvalidos (SPD)
A Sociedade Protetora dos Desvalidos (SPD) foi pensada e construída para dar continuidade à luta do povo preto. Homens que nunca se curvaram ao abuso da escravidão.
Fazer o enfrentamento às desigualdades sociais, à imposição religiosa e ao racismo foram as bandeiras de luta que deram vida à Revolta dos Búzios, alimentaram os ideais da SPD e os objetivos da Revolta dos Malês. A instituição, que em 2025 completa 193 anos de atuação ininterrupta, renova constantemente seus objetivos, alinhando-se às questões contemporâneas que exigem igualdade de direitos para todos os cidadãos brasileiros.
Criada em 1832, hoje, por força das atualizações do Código Civil brasileiro, assumiu o nome de Associação Protetora dos Desvalidos (SPD), preservando princípios e missão: lutar por igualdade de direitos para todo o povo preto da cidade.
A força e o desejo de liberdade não sucumbiram às injustiças que marcaram a Bahia desde o início da escravidão. Búzios (1798) ecoou clamando pelo que hoje se conhece como equidade racial e social. Assim nasce a SPD (1832), da convergência de inteligência e estratégias econômicas, emancipação e preservação cultural do seu povo.
Os Malês (1835) deram continuidade ao levante da insubmissão. Desse modo, todas as histórias de lutas e resistências pela liberdade de mulheres e homens passam por esses marcos.
Criação e Estratégia
A SPD foi criada por Manoel Victor Serra, com o principal objetivo de restabelecer o direito à liberdade de pretos e pretas escravizados/as. Ele se uniu a outros 18 homens pretos livres e, através da ajuda mútua, compraram cartas de alforria, ofereceram condições de autonomia e cursos de formação nos ofícios da época.
Diante da proibição de associações de pessoas pretas fora do âmbito religioso, adotaram inicialmente o nome de Irmandade de Nossa Senhora Soledade Amparo dos Desvalidos, na Igreja dos Quinze Mistérios. Após passagens pela Igreja do Carmo e pela Igreja do Rosário dos Pretos, entre 1869 e 1882 funcionaram em uma casa alugada na Rua do Bispo.
Em 1876, adquiriram o sobrado no Largo do São Francisco, 17, atual sede da SPD, onde permanecem até hoje.
Ações de Resistência, Aquilombamento e Empoderamento
Manoel Victor Serra, um africano livre que trabalhava de ganho vendendo água na Ladeira da Preguiça, fundou a SPD, sendo assim a primeira organização civil negra do Brasil.
Atualmente, apoia projetos como o Instituto Renascer Mulher e o Quilombo Mulungu, mantém a Casa Carolina de Jesus para acolhimento de africanos e quilombolas, apoia trabalhadores ambulantes no Centro Histórico e desenvolve ações políticas com o Coletivo Agbara Dudu para fomento de lideranças negras.
Principais Objetivos
A SPD buscou recursos entre associados para:
- compra de cartas de alforria;
- ações de formação e serviços assistenciais;
- apoio a famílias ainda submetidas à escravidão.
A entidade criou loterias, caixas de pecúlio e empréstimos, antecipando a Caixa Econômica Federal. Os recursos eram guardados em um cofre de três chaves, revertidos em alforrias, formações profissionais, aquisição de imóveis e apoio em casos de doença ou morte, garantindo inclusive funerais dignos.
Pensadores e Intelectuais
Diversos intelectuais passaram pela SPD. Destaca-se Manuel Raimundo Querino (1851-1923), desenhista, jornalista, historiador, etnógrafo, professor da Escola de Belas Artes da UFBA e capitão da Guarda Nacional. Sócio atuante da SPD, foi o primeiro negro a ocupar uma cadeira na Câmara de Vereadores da Bahia, com quatro mandatos.
Participação Feminina
Embora não haja registros de ações voltadas exclusivamente para mulheres no século XIX, sabe-se que ganhadeiras (mulheres que viviam de ganho com tabuleiros e quitandas) eram beneficiadas pelo sistema de empréstimos da SPD, fortalecendo o empreendedorismo negro.
Hoje, a SPD atua fortemente pelo empoderamento feminino e pela participação de mulheres negras em espaços de poder.
Bandeira de Luta
Para a SPD, justiça social não é um refrão, mas uma bandeira de luta. Ao longo de 193 anos, mantemos nosso compromisso com a luta antirracista e com a defesa dos direitos do povo preto.
Ações na Contemporaneidade
A SPD realiza ações de empoderamento, reparação racial e fortalecimento das comunidades negras, atuando junto a quilombolas, periferias e coletivos sociais de Salvador. Mantém-se firme na defesa da equidade de gênero, no combate ao racismo e na preservação da ancestralidade como força para o futuro.
Reparação já!